segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Por Flávio Viegas Amoreira

O Estado é imprescindível até alguma Utopia libertária possível. O "Consenso de Washington" e o neoliberalismo nos venderam gato por lebre para favorecer poucos e pôr de novo o capitalismo em cheque: Marx previu essas hecatombes naquilo que muitos achavam ser inevitável, infalível e ‘natural’: a auto-regulação do mercado e a complacência igualitária do bolo repartido depois de crescido. O socialismo pode ser mais lírico, poético, distante, mas acreditar que exista racionalidade nessa máquina de moer gente e consumo indecente é crer na falácia de Fukuyama bradando o fim da História. A América ainda será hegemômica pelo comportamento, cultura e sistema impostos: se o Império ianque vai ruindo, a mentalidade estadunidense ainda é o pote de ouro dos brasileiros que ‘macaqueiam’ aos chineses que ‘maquiam’ querendo faturar e entrar na farra da opulência de fachada.

A vitória de Barack Obama é uma fatalidade generosa: um imperativo miraculoso: na forma Barack representa a geração nascida na liberação dos anos 60: a América intelectualizada, progressista, a terra de Walt Whitman e Gore Vidal. Barack é o anti-jeca,o declínio da caretice religiosa mancomunada com Wall Street que deram em Reagan e Bush. Sua biografia é uma saga pan-racial, radicalmente cosmopolita e um relato raríssimo de perseverança: Barack é talhado para a convergência em torno de consenso anti-belicista, ambientalista e multilateral; no conteúdo ele encarna a saída do Iraque, a repactuação atlântica, a ponte com Islã moderado e a retomada do "New Deal" com profundidade globalizante: um Roosevelt num planeta miscigenado por temores e desafios em comum. Sabemos que América é dominada pelas grandes corporações e a indústria armamentista é um esteio (o documentário "As razões da guerra" é um clássico imperdível no tema), mas a crise impõe a revisão de todas ortodoxias: é hora de ressuscitar Lord Keynes de modo cibernético; governos serão instados a gastar e muito! para recompor ausência irresponsável em Bem-Estar Social, Infra-Estrutura e realinhamento mais igualitário desejável para que se evite o caos e os desvarios totalitários. O sociólogo polonês Bauman nos dá receita em "Tempos Líquidos": "Tudo que é feito por seres humanos pode ser refeito por seres humanos. Portanto, não aceitamos quaisquer limites à reconstrução da realidade".

Espero quando publicado esse artigo possa já estar comemorando Barack Obama: não sou personalista, não empenho confiança apenas na retórica e no magnetismo de seus olhos; aposto no que ele representa: a convicção que a humanidade experimenta a volúpia do futuro, propósitos além do aparente e dos padrões cansados. Heath Leadger, o "Coringa" fala como Nietzche em "Batman": "a chave do caos é o medo". Barak diz ser possível: liberdade com prosperidade à começar pelos que estão por baixo.

Especulação, insânia energética, conflitos por petróleo, puritanismo comportamental e postura de cowboy são herança ser removida: Obama será grande antídoto que justifique minha rejeição ao antiamericanismo. Obama eleito será como ouvir Cole Porter ou ser beatnik no Village. A crise será detida no olho do furação: América é fundamental, para além do bem e do mal. Uma nova ONU, um novo mundo de trabalho revalorizado e sonho originalíssimo: o capitalismo está em cheque, sem dólar furado e arrogância do bônus pintado: Paul Kennedy ou Eric Hobsbawn (ingleses de esquerda são formidáveis!) tem a mesma receita-diagnóstico: ou mudamos juntos ou afundaremos; o capitalismo provou-se perigoso: Política, Estado e liderança vão por a especulação e o conceito Economia em quarentena para uma geração. É o ser humano! depois da abstração do mercado quem vai última cartada. Barack é senha, símbolo e sinal: quem viver verá para ser reinventado.

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