quarta-feira, 10 de dezembro de 2008



A poética de Carlos Lineu (Liso Carenu) tem alto poder imagético, - o jovem autor segue com maestria os três preceitos que regem a Alta Literatura segundo a definição do mestre e poeta Ezra Pound : melopéia (musicalidade no texto), fanopéia (metáforas plasticamente riquíssimas) e logopéia (conteúdo ontológico e psicológico poderoso na Busca do Ser): ritmo, imagens e conceitos convergem com rara sensibilidade : importante ter Carlos Lineu como interlocutor, sua Arte formará Obra de impacto e originalidade. Sua Obra remete à tradição surreal-pantagruélica transmoderna de Lautreamont, Rimbaud e os escritores e artistas modernos como André Breton, Dalí, Magritte, os brasileiros Ana Cristina César, Roberto Piva e os beatniks. Liso Carenu: esse eu recomendo, me tirou mais uma vez da solidão intelectual: puta poeta que surge...

Flávio Viegas Amoreira
Escritor / crítico literário


QUALQUER LÓGICA PODE SER ALVORADA

(Poemas inéditos de Liso Carenu)

I –
Querer, louco ser da forma
sendo ela feia das mais feias
é a única forma de sentir
o calor das palavras soltas
como numa cabeça de sacos de batata

como excreta a devoção da vida para ver o invisível?
sendo concreta a escrita e a forma
e não existe por motivo algum a perda do futuro

no momento em que desce a flora sobre o pairal
toda a natureza desperta fogo sem mitologia, alergia
a poesia louca adentra nos cotovelos pela estrada afora
e muda o roteiro da libélula

a arte da escrita é anterior a arte de comer
nada disso é arte!

quando se tem um rojão apontado as meninas
correndo pelos olhos da esquerda pra direita
mas vontade de escrever é maior
que há de ler

as palavras me ludibriam sensato
e me fazem dizer que te amo
que se fôda!
e que bem aventuremos nas palavras lustres

penduradas na mente
esperando um estímulo interessante por bem
ou estressante por mal que as coisas hão de acontecer

cada passo escrito em poesia
é o futuro sendo introduzido
como os membros da família perdendo os dedos

e que largo seja o infinito das palavras
porque a ignorância prevalece muda e surda
ainda usa a inteligência
interpretando-a
mesmo sendo ela a fonte prematura
de uma vida abraçada numa árvore
preso a ela com uma braçadeira gigante

perdendo o peso com água gelada
e o entendimento do texto
amigo do filme
perdeu-se com o extinto chip da fonte

na sua cabeça cheetos
parente próximo
das crianças da década de 80
enrabando as paquitas do show da Xuxa

convenhamos
nada além de nós pode nos separar
a partir do momento que adentramos
o portal da imaginação livre e dali,
livre!
não estou preso a fotografias nem vídeoclipes!

não precisamos de luz
adaptamo-nos as pegadas instintivas da imaginação
e qualquer lógica pode ser alvorada


II -
lembro - te que tudo isso
sobre o olhar de um raciocínio fétido
patrocinado pela estação de tratamento de esgoto
pela fornecedora de energia elétrica

faz de novas palavras
roupagens inovadoras da sua fé figurada
como se a fé fosse uma seqüencia
de amor e retratos, caras e cheiros
e principalmente luzes sem cor

chegando do espaço
indo para o espaço

entre o pescoço e a boca
pode estar o queixo
mas o problema
é a cama em que te acalma quando deito
e deitado vejo o suor das suas mãos
e o gogó soluçando

o monstro da capivara
surgiu no happyhour engravatado de sexta-feira
oxigenado riacho dentro da bolha
encontrou seu lugar na faculdade
era sábado bem o espaço: buceto negro oco
espaço que fica dentro do bule de café
entre o big bang da mente e o delírio da alma

ou numa antena colher que atende o pedido
ou a sua fantasia de carnaval
dançando Chico no meio da semana

revendo a leitura que não leio
vejo uma luz no fim do túnel
como uma locomotiva
vejo a sombra de um maquinista
querendo dizer algo com as mãos

e meu coração apaixonado por Elvira
prima da pólvora estourava na palma
criando um espírito pipoca

encosta o pés nas mãos pra
dizer tendão tendão ao infinito
fluxo de caixa é o pensamento
fluxo de pensamento dentro de uma caixa
e cada pagina é uma porta

sim salabim na verdade salabim
evocação sim saúde ao coração
americano tosco
palavras aqui não estão
e sim seriedade e sensação


SISTEMA ASNO DE TELEVISÃO

E agora no vento da praia
corro a procura cósmica
o mar longe dos pés
a veia corroendo minha letra
marcando como boi é marcado no anteparo do vidro
do lado de lá da TV

o fim da acústica
o fim da astúcia
cenário persecutório
do que se trata a virgem da viagem

apaixonado se perdeu na dor do eleitorado
um voto de castidade
pro universo prosperar
e respirar espécie de sangue
num cheiro de fralda

na festa da limpeza todos sorrindo
o diafragma funcionando
e os leds acesos
no meio do salão, do cinema
escuro e pegajoso

ema bolha negra boiando no mar
devagar se aproxima do mangue
avança e leva seus frutos
refugio das formas
nascente dos beirais e abismos

aqui ninguém me encontra
posso ser visto de qualquer maneira
ninguém mais me apaga

no Zeppelin que toca amor fugidío
à brasileira espécie

cartas náuticas de antigos piratas
deixam aperfeiçoados
batalhas bilíngües da noite
breu e alforje derretido
mofado declínio da estação
borra de chuva com barro nobre
guitarra de berro fura belo

os últimos gritos de solenidade de tempo dedicado
dos derradeiros dias
dos andes palestinos
da África abortada

mãe pagã
figa de isopor
papel de parede estranho

sem ritmo sem vez sem coragem
morto na sedução
sistema de cores inerte sem explosão
Sistema Asno de Televisão


[ Liso Carenu, pseudônimo de Carlos Lineu Pupo, arquiteto, urbanista, artista plástico e poeta multimídia, tem 26 anos, santista, apresenta poemas de seu novo livro “ Qualquer lógica pode ser alvorada”]
http://poesiadelisocarenu.blogspot.com/
carlos.lineu@gmail.com

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