terça-feira, 10 de março de 2009

Por Marcelo Ariel


1) O que a fotografia significa para você ?
Talvez eu não consiga delimitar o significado exato da fotografia para mim, prefiro até não tentar fazê-lo, na verdade. Gosto e prezo do amadorismo do meu olhar. É fato que fazer matéria de um mundo sensível ao relance dos olhos me fascina. É fato, e pode ser comprovado ao se observar a minha produção e em como acompanho a obra de outras pessoas também.

2) Qual a relação entre a luz, a beleza e o tempo nas suas fotos?
Considero-me uma maníaca da luz. Penso que esse é o traço mais marcante das minhas fotos, o jogo de luz e sombra. Já que não possuo um equipamento profissional - nem ao menos sem-profissional - desde sempre me preocupei em compor cenas que compensassem essa desvantagem. Com a prática, aprendi que isso era possível principalmente com uma boa manipulação da luz, e é o que eu busco incessantemente fazer nas minhas produções. Eu não persigo a beleza. Uso a luz para realçar, esconder, expor rastros de sensibilidade. Eu gostaria de que, através da maneira como capto o mundo, o mundo pudesse falar, se expressar, por si mesmo - mas se através da minha lente, com a minha interferência, é inevitável. Então, que essa interferência fosse sensível o bastante, fosse digna do que está sendo dado - e eu vou lá e colho com zelo. Quanto ao tempo, fica em suspenso, abolido talvez, porque não tenho a preocupação de demonstrá-lo presente, se isso acontece, é acidental.

3) Existe uma tentativa ontológica de autoconhecimento nos seus ensaios fotográficos?
Totalmente. Essencialmente. É o que mais me motiva na prática da fotografia. Na verdade, é o fundamento da minha obra, se é que posso chamar de obra o risco que corro ao fotografar.

4) Você também escreve, há alguma conexão interior ou vaso comunicante entre seu trabalho fotográfico e seus textos?
Sim. Em ambas maneiras que encontrei, e que tenho prazer, em me expressar, o que quero realmente é me fazer sentir. Fazer sentir, não necessariamente ser compreendida ou admirada. Quero tocar em algo que não tem nome, indizível, trazer a tona uma experiência sensível, com palavra e imagem. Também quero me comunicar, ser capaz de criar aquele estalo interior de comunhão com quem tem contato com as minhas produções. Comungar com palavra, imagem mas sem a urgência de ser decifrada, quero, acima de tudo, provocar uma sensação de familiaridade e de desconforto, ao mesmo tempo, cativar o olhar, fazê-lo se deter sobre o que tenho a dizer, que vai muito além da palavra. Dizer no sentido de transmitir algo, algo que é: eu.

Nota: Quem quiser conhecer o trabalho da Natália é só clicar no link abaixo:



0 comentários:

Postar um comentário

Os comentários ao blog serão publicados desde que sejam assinados e não tenham conteúdo ofensivo.