terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Alessandro Atanes, para o PortoGente

1925. Três anos se passaram desde a Semana de Arte Moderna e Oswald de Andrade publica em Paris, pela editora Sans Pareil, o livro Pau Brasil com uma série de poemas em busca de uma brasilidade poética moderna, traço característico dos vanguardistas do período que, como exprime Paulo Prado no prefácio, tinham a intenção de exterminar “o mal da eloquência balofa e roçagante”.


Ilustração de Tarsila do Amaral publicada em Pau Brasil

Com ilustrações de Tarsila do Amaral, o livro-manifesto é dividido em seções sobre a terra e personalidades dos primeiros anos após a chegada dos portugueses, colonização, o carnaval e um passeio por Minas Gerais. Ainda no prefácio, Prado, mecenas e poeta que também participou da Semana de 22, avalia que essa nova descoberta do Brasil é motivada, no caso específico de Pau Brasil, pelas saudades durante uma viagem a Paris onde descobre, “deslumbrado”, sua própria terra:

A volta à pátria confirmou, no encantamento das descobertas manuelinas, a revelação surpreendente de que o Brasil existia. Esse fato, de que alguns já desconfiavam, abriu seus olhos à visão radiosa de um mundo novo, inexplorado e misterioso. Estava criada a poesia “pau-brasil”.

A parte final, Loyde Brasileiro, tematiza exatamente a viagem de retorno ao Brasil, desde o embarque em Lisboa até a chegada em Santos. Curioso que o poema se limita entre um e outro porto, ficando Paris e São Paulo, as duas pontas do itinerário, fora da narrativa. A seção se inicia com o poema Canto de regresso à pátria que, no caso, é a cidade de São Paulo, berço dos modernistas.

Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo


A monotonia da viagem é vencida pelo whisky e pela jogatina a bordo:

O mar
Canta como um canário
Um compatriota de boa família
Empanturra-se de whisky
No bar
Famílias tristes
Alguns gigolôs sem efeito
Eu jogo
Ela joga
O navio joga

Próximo à Linha do Equador surge o primeiro aviso sobre o terra natal, a aparição do Rochedo de São Paulo, um “Everest da Atlântida”, e, em seguida, Fernando de Noronha, composta de “Quatro antenas / Levantadas entre a Europa e a América”, entre outras referências. Depois, o continente e algumas cenas portuárias.

Em Recife:

Mas os guindastes
São canhões que ficaram
Em memória
Da defesa da Pátria
Contra os Holandeses

Chaminés
Palmares do cais
Perpendiculares aos hangares
E às broas negras d’óleo
Baluartes do progresso

Ou uma escala em Salvador:

Sob um solzinho progressista
Há gente parada no cais
Vendo um guindaste
Dar tiro no céu

Em Versos Baianos, a importância da primeira capital brasileira:

Forte de São Marcelo
Panela de pedra da história colonial
Cozinhando palmas
E as tuas ruas entreposto do Mundo
E os teus sertanejos asfaltados
E o teu ano de igrejas diferentes
Com um grande dia santo

Do Rio, a paisagem:

O Pão de Açúcar
É nossa Senhora da Aparecida
Coroada de luzes
Uma mulata passa nas Avenidas

Antes de chegar ao porto final, o Anúncio de São Paulo:

Antes da chegada
Afixam nos offices de bordo
Um convite impresso em inglês
Onde se contam maravilhas de minha cidade
Sometimes called the Chicago of South America

E fechando a seção e o livro, o poema Contrabando, com a chegada em Santos:

Os alfandegueiros de Santos
Examinaram minhas malas
Minhas roupas
Mas se esqueceram de ver
Que eu trazia no coração
Uma saudade feliz
De Paris.

A falsa contradição que fecha o livro (“Uma saudade feliz / De Paris”), neste poema que se passa em Santos, talvez resolva de uma forma sucinta toda a questão em relação às influências europeias de vanguarda e o desejo de renovação das letras nacionais do grupo modernista. A saudade feliz aponta para isso: a admissão da referência europeia, principalmente francesa, mas temperada pela felicidade de voltar a terra natal e cantá-la em uma nova forma, que se adequasse à cor local. Esse é o contrabando que Oswald de Andrade traz ao Brasil, simbolizado no próprio livro editado em Paris.

Referência
Oswald de Andrade. Pau Brasil. Edição fac-similar. França, Paris: Sans Pareil, 1925.

1 comentários:

  1. Por favor publique o poema Contrabando de oswaldo de andrade sem pausas. Coloque de forma que todos saibam qual é o poema e como ele foi escrito depois do poema colocar uma analise do poema. Isso iportante para quem precisa de poemas do seculo xx para fazer uma antologia.Também publique varios poemas do sec. xix e do sec.xx,publique também a importancia do modernismo no Brasil.
    Obrigada ficaria lisongeada se vocês publicassem isso.

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