segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O poeta, escritor e editor Ademir Demarchi esteve no México a convite da embaixada do Brasil e inicia neste texto uma série de relatos sobre a experiência
Capa de Os mortos na sala de jantar, título de Demarchi: a morte, tema tão mexicano
Caros leitores, precisei ir ali no México comer um pão de morto e nem deu tempo de avisar que faria o possível para voltar vivo, tanto que falam que aquele país está dominado por narcotraficantes e por grupos paramilitares, todos se matando dedicadamente com amor uns aos outros. 
Dia 24 de setembro passado deixaram duas camionetes com 35 presuntos, na frente de uma prefeitura. Só se falava disso, era assunto nacional, e quando parecia que os mortos finalmente iam esfriar, dia 6 passado apareceram mais 30 e tantos novos cadáveres na cidade portuária de Acapulco. Entre uma data e outra, na capital explodiram um cassino em que morreram mais uns 15, apagaram duas jornalistas, encontraram as cabeças decapitadas de um taxista e um deficiente mental e circulou um vídeo com uns 40 homens mascarados, vestidos de negro e armados até os dentes, que assumiram as mortes dos primeiros 35 mortos, dizendo-se “matazetas”. Os “zetas” são uma das quadrilhas fortes, de 5 delas, atuando no México e perfeitamente organizadas em todas as regiões dos Estados Unidos... Ou seja, economia dolarizada.
Ufa, todos já devem estar dando graças a deus que consegui sair de lá vivo!
Assim, essa história da criminalidade que domina o México não deixa de ser verdade, mas conto melhor depois com obsessão de legista. Isso porque esses serão os assuntos desta e das próximas colunas, aproveitando que fui ao México correndo, não para participar dos Jogos Pan Americanos, mas para atender a convite da Embaixada do Brasil naquele país. 

Fiz apresentações literárias em feira de antropologia e história em que o Brasil foi o país homenageado, realizada no Museu de Antropologia, que é certamente o maior das Américas Central e do Sul, pois lá estão os acervos dos povos asteca, maia, tolteca e vários outros, que ocuparam o México antes da chegada de Cortez. Leva-se pelo menos 2 a 3 dias inteiros para percorrer aquele museu, tal a quantidade de peças valiosas preservadas, sobretudo em cerâmica e pedra. 

Só não há muito ouro, pois quase toda a ourivesaria encontrada com os astecas foi derretida para ser convertida em lingotes destinados a dar ânimo nos 500 soldados que estavam com Cortez para lutar contra dezenas de milhares de índios, mas também nos espanhóis que vieram depois e na própria aventura de construir o Reino da Nova Espanha nas Américas Central e do Sul. A cultura dos astecas era centrada em imagens, algo incompreensível para os espanhóis, que os viam como bárbaros existindo fora do reino de deus, ou seja, sem nenhum valor humano, mas ambicionavam deles todas as suas riquezas.  

A matança foi tanta que quase não sobrou índio pra contar. Mas desde então o trabalho árduo de pesquisadores recuperou relatos vários e praticamente toda a cultura desses povos indígenas, com tal minúcia que hoje se conhece até as cores e pigmentos que eles usavam, em detalhe. Não bastasse essas ricas culturas para se conhecer, a Cidade do México é maravilhosa e segura e nossa moeda está 7 x 1 lá, mais do que a pífia Seleção Brasileira conseguiu fazer no amistoso da semana passada. Se fôssemos otimistas diríamos que provavelmente por falta de ar, pois a altitude lá é mesmo de tirar o fôlego. Pena que tive que voltar antes do Dia de Finados, quando os mexicanos fazem grandes festas em memória dos seus mortos. Mas felizmente pude comer alguns pães de morto, deliciosos que fazem para esse dia e são vendidos em todo lugar para os vivos se deliciarem!

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