quarta-feira, 13 de janeiro de 2016



Por Márcia Costa


“O Escritor Que não Tem Boas Ideias não quer envelhecer assim, acossado pela Opinião Pública.

Três vezes por semana ele pesquisa na web os métodos de suicídio mais eficientes e indolores”.

Os livros de Luiz Bras, Nelson de Oliveira, Valério de Oliveira e Teo Adorno deveriam ser recomendados pelo Ministério da Saúde. Aliás, manter amizade com eles também deveria ser recomendação médica. Achar alguém que te faça compreender as agruras da pós-modernidade e que ainda te ajuda a criticar e rir do humano (e do pós-humano) não é pra qualquer um. 

Além de um fenômeno criativo, são de uma generosidade sem fim. Primeiro, Luiz Bras me manda seu Distrito Federal, um livro tecido inteligentemente que aborda a corrupção como câncer brasileiro e que dá um passo além por girar em torno do pós-humano, um tema que ele pesquisa magistralmente. 

"O novo livro de Luiz Bras é uma rapsódia pós-moderna e futurista sobre a política e os políticos brasileiros; sobre demagogia e corrupção, eleições fraudadas e impeachments; sobre ambições públicas, vícios particulares e os meandros insólitos de nossas instituições democráticas; enfim, sobre sociologia, História, teoria dos jogos e teoria do caos, utopias e distopias, cibercultura e realidade virtual, filosofia da linguagem, cultura de massas e cultura popular (folclore)", diz o resumo bem feito anunciado pela Editora Patuá.

Teo Adorno assina as catorze gravuras tupinipunks que ilustram o romance. Não sei onde eles conseguem tanta informação pra pensar o presente-futuro – deve ser por que são quatro em um, ou um em quatro. Em viagem de ônibus a Sorocaba, a cada curva, a cada página lida, uma nova surpresa e uma gargalhada interna dessa leitora-fã aqui.

Em seguida, recebo na portaria do prédio Citizen Who, Peripécias do famigerado Escritor que Não tem Boas Ideias (Terracota Editora), cujo trecho cito no início deste texto. Ao contrario do que o título sugere, o que não falta no querido Nelson são ideias bizarras, como ele mesmo diz, e divertidamente inteligentes. E Teo Adorno é o responsável pelas imagens, numa parceria artística perfeita.

Encontrar bons temas e bons textos pode ser até fácil. Mas encontrar um escritor hipercriativo que consegue falar de assuntos tão trashes de forma tão genial, que aponta sobre uma nova forma de pensar a literatura hoje, e que ainda por cima ainda cumpre com alto grau de generosidade a função de ser um “semeador de livros” isso sim é raridade.

Tadeu Sarmento foi uma surpresa recente e igualmente agradável pra mim. Com seu “Associação Robert Walser para sósias anônimos” (Cepe Editora), prêmio Pernambuco de Literatura, enviado por Adriana Garcia, tive a oportunidade de passear por um romance ancorado na filosofia. A historia gira em torno de uma associação, onde sósias de famosos se reúnem, e da cidade de Nueva Koninsgberg, onde os habitantes imitam o cotidiano regrado de Kant.

No meu caso, que não sou uma conhecedora como desejaria ser da área filosófica, cada frase – e ele é também um excelente frasista, como bem definiu Adriane – me ensinava sobre a vida:

“Todos chegam a um ponto na vida no qual não sabe mais quem são. A diferença é que o sósia é o primeiro a atingir este ponto, onde permanece por gosto. E – vocação”.

Em um final surpreendente, que não vou contar aqui, ele surge com essa:
“A vida é uma rede de hábitos que suportamos pelo pior deles (....)”

Leiam Luiz Bras, Nelson de Oliveira, Valério de Oliveira e Teo Adorno e Tadeu Sarmento. Verão que eles são muito mais do que escrevi aqui.

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