quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Fotografia: Bruno Schultze

Por Marcelo Ariel 

O legado de Gilberto Mendes ainda está por ser avaliado. Seus trabalhos criaram um campo híbrido onde se entrelaçavam literatura, cinema, teatro e música. De um modo insuspeito ele realizou um dos sonhos de Richard Wagner, a criação de uma obra total, um livro de correspondências entre as artes e a interioridade.  

Nascido no mesmo ano de Jack Kerouac e da Semana de Arte Moderna, ele atravessou o século como um cometa suave, como uma ilha flutuante de leveza e densidade singulares. 

Certa vez, me contou de seu encontro com Tom Jobim. Estava no Rio ao lado do edifício onde morava o maestro carioca e decidiu bater em seu apartamento. Tom atendeu e o recebeu muito bem. A Graça no sentido maior da palavra, de uma contemplação da beleza e da gratuidade dela, se torna presente, se somos capazes de imaginar o que estes dois músicos geniais conversaram nesta tarde que hoje alcança o infinito, onde dois Brasis profundos se tocaram. 

Neste número especial da Revista Pausa, prestamos nossa homenagem através de uma seleção de artigos e depoimentos de pessoas que foram tocadas por esta força criativa da alegria de viver chamada Gilberto Mendes, força que deixa um enorme rastro harmônico, neste presente contínuo onde agora estamos, rastro que também é uma presença, apontando para outras possibilidades de fruição e contemplação da beleza, o mesmo rastro harmônico/presença que nos deixaram Tom Jobim, Stravinski, Villa Lobos e Almeida Prado, e que devem estar com ele agora, no incomensurável e misterioso além.

Marcelo Ariel é escritor e poeta e um dos editores da Revista Pausa


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