quarta-feira, 8 de junho de 2016



Por Flavio Aguiar (de Berlim)


Some a primeira panela silenciada…
Outra, mais outra e milhares a seguem na esteira,
Voltando, murchas, na cozinha, à prateleira,
Ou então devolvidas pela patroa à empregada.

Antes tão vibrantes nas janelas
Tinindo acordes contra “aquela mulher”…
Agora escondem de vergonha o seu mister
Calando suas estridentes tarantelas…

E assim, tristes, se resignam elas
A sua antiga função de apenas cozinhar;
Terão saudades das passadas glórias, e tão belas?

Não se sabe... Pois suas donas, com rímel e ramelas
Nos feros olhos, nunca as vão interrogar.
 Afinal, voltaram a ser míseras panelas.


Flávio Aguiar nasceu em Porto Alegre (RS), em 1947, e reside atualmente na Alemanha, onde atua como correspondente para publicações brasileiras. Pesquisador e professor de Literatura Brasileira da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, tem mais de trinta livros de crítica literária, ficção e poesia publicados. Ganhou por três vezes o prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro, sendo um deles com o romance Anita (1999), publicado pela Boitempo Editorial. É colunista quinzenal do Blog da Boitempo e da Carta Maior.

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