quinta-feira, 12 de janeiro de 2017



Por Iran Silveira 


no quarto da madame clo'aca /
nem café nem cafezinho cafetina

Acabei de conhecer a poesia de Demétrio Panarotto, e a porta de entrada foi justamente a do puteiro, ou melhor, No puteiro, seu mais recente livro.

O pequeno volume abre com uma epígrafe de Deleuze, que dá a dica ao leitor: onde se lê "canibalismo", pode-se trocar por "capitalismo". 

São 16 fragmentos em verso e prosa, que podem ser lidos na sequência ou não, e evocam cenas de Fellini (Satyricon talvez) e Pasolini (Contos de Canterbury talvez) e de canções dos Doors. A leitura é fácil – no bom sentido. As imagens bizarras/circenses têm como personagens religiosos, músicos, índios, animais, e até um leão de chácara sendo velado, entre outros. Meu fragmento preferido é o VII, cuja 'tese' (com o perdão do trocadilho) é a de que no puteiro há também espaço para as divagações intelectuais (neste caso, por conta de um Bocaccio "não mudo"). 

O grotesco aqui não é uma palavra como "piroca", mas o dispositivo que transforma os limites em novos recursos (de "desenvolvimento") – um sistema sem força de subjetividade, onde só resta destruir.

Após algumas leituras, fico aqui esperando uma vaga no puteiro (que é o Brasil? o planeta?), ou outro livro de Demétrio. O autor é professor universitário e reside em Florianópolis; como ele diz, já come(te)u "alguns livros, alguns discos e alguns filmes".

Um brinde à editora Butecanis, de Camboriú, responsável pela 1a tiragem de 50 exemplares de No puteiro e por outras obras mais. E que se inicie a pajelança.

Iran Silveira é acadêmico e resenhista entusiasta em SC

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